quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Abdução ilegal?

Eu tenho acompanhado há tempos a história de Sean Goldman, seu pai David e a luta deste na justiça pela guarda da criança. Antes de mais nada quero dizer que eu MUDEI de opinião depois que vi todos os lados da história. Justamente por isso, começo esse post contando outra história,a história de Betty Mahamoud, narrada posteriormente ao jornalista William Hoffer e transformada no filme "Nunca sem minha filha".
Ela era uma médica americana casada com um iraniano, também médico, residente nos Estados Unidos há 20 anos. Eles tinham uma filha de 7 anos quand foram passar férias no Irã. Chegando lá, Mouhammed, o iraniano, avisou a Betty que a partir daquele dia ela deveria "submeter-se ao regime" e que não eram férias: a volta era definitiva. Betty não aceitou isso de imediato e foi "enquadrada" pelo marido, "virou" muçulmana, teve de usar chador e perdeu toda liberdade.
Claro que com o tempo ela acalentou e elaborou um plano que a fez fugir do Irã sem o conhecimento nem o consentimento do marido, carregando a filha de dez anos do casal numa fuga sofrida que ninguém teria coragem de classificar como "abdução". Ninguém a não ser o marido, que entrou com um processo contra ela na justiça americana que foi perdido em todas as instâncias a toque de caixa. Pano rápido, final feliz, heroína americana livre do monstro muçulmano.
Trinta anos depois uma jovem brasileira de família abastada chamada Bruna Bianchi casa-se com um americano chamado David Goldman. Ela dá aulas de idiomas, ele é modelo e trabalha como guia turístico. Casal lindo, conto de fadas! Nasce um bebê. E aí começam os problemas.
David pára de trabalhar, nem mesmo bicos eventuais como fazia antes ele faz mais. Bruna vai se cansando cada vez mais e ouve sempre a alegação de que “poderia pedir dinheiro à sua família, que era rica, no Brasil.”. Um dia ela decide dar um basta à sua situação e, exatamente como Betty Mahamoud, a heroína americana, foge.
Foi certo? Não sei. Mas foi a única forma de fugir de um dispendioso divórcio em solo americano em que certamente seia tratada como cucaracha. Uma vez no Brasil, ela tentou reconstruir sua vida. David tentou atrapalhar e para “facilitar o divorcio” pediu – e foi atendido – 150 mil dólares, tudo registrado em cartório. Nesse tempo ele não lembrava que era pai: há registros de ligações dele para o escritório de advocacia que cuidava do divórcio e NENHUM para a casa onde o filho morava.
Ele não era proibido de falar ou ver o menino: a prova disso é a passagem que ele nunca retirou enviada pela mãe para que ele visitasse o filho em 2006. Até 2008 todas as movimentações co processo do divórcio giram muito mais em torno de acordo financeiro que em trno da guarda de Sean.
Até que a morte de Bruna, em 2008, mudou tudo. A tragédia durante o parto de Chiara, segunda filha dela com o advogado Paulo Lins e Silva foi descoberta por David que, então, tornou-se o mais interessado dos pais. Não vi ninguém, a não ser a Cora Ronái numa coluna há um ano atrás, comentar que paralelo ao processo de guarda, david entrou com processo pela tutela da herança a qual Sean tem direito e que foi depositada pelo padrasto em juízo para que o menino usufrua após a maioridade.
David foi na Oprah, estampou rosto do menino em canecas, camisetas, vende tudo em seu site para “custear o processo”, o que é alegação mentirosa, uma vez que depois que a mídia entrou no circuito o próprio governo americano está pagando um escritório no Brasil para defender os seus direitos. David diz ainda que o site “quase não arrecada”, tendo vendido “apens 12 mil dólares em objetos” mesmo tendo sido mostrado gratuitamente a 80 milhões de pessoas na mídia.
A grande incoerencia de david é dizer que tem condições de criar o menino – apesar de não ter emprego formal- e solicitar acesso à herança do mesmo “para uso com a criança”.
Para mim é muito óbvia a manipulação de informações, mas vamos aos fatos: David Goldman alega ser apenas um pai contra uma família “poderosa no Brasil”. Mentira. Ele tem a mídia americana toda a seu favor, tem a pressão do próprio presidente Obama e ainda tem todas as despesas judiciais custeadas para jogar em igualdade de condições.
Antes que alguém diga, não é uma questão patriótica e nem sou antiamericana. Só que eu acredito no direito como forma de se fazer justiça, não dinheiro. E David Goldman está usando duas coisas caras à cultura americana para lucrar: a mídia e um processo.
David Goldman alega que sempre quis ver o filho, mas nada no processo pré-2008 indica essa vontade, pelo contrário, não há registro de que tenha sequer buscado conversar telefonicamente com a criança. Ele diz querer o melhor para seu filho e ser movido pelo amor, e mente novamente: não deseja que o menino seja ouvido em juízo e principalmente não quer que o processo dele pela administração da herança seja divulgado – para este seus advogados solicitaram sigilo de justiça. David Goldman diz que a família da brasileira é poderosa, influente e que usa isso contra ele, mas ele chantageia a mídia e se coloca como pai desinteressado quando, na verdade, a família que está investindo muito no amor que tem por sean, enquanto ele investe praticamente nada em um processo que, uma vez finalizado, o tornará milionário. E isso é ara as pessoas que eu vejo comentando e falando que a família “tem dinheiro e quer comprar tudo”. Ora, ter dinheiro não é crime, crime previsto no código penal é usar uma criança para ganhar dinheiro.
Não acredita em mim? O livro já está escrito e a história já está vendida para o cinema, esperam apenas o desfecho. David Goldman vai lucrar ao menos dois milhões se conseguir a guarda de Sean, sem fazer praticamente nada. É o sonho americano tornado realidade pela influência de milhões de otários, aí incluídos um presidente, uma secretária de estado e um juiz do STF, que se ateve a letra fria e burra de uma lei que não é capaz de enxergar a vontade de uma criança na hora de se fazer justiça.

6 comentários:

Van disse...

Olha, você reaalmente não leu os 2 lados da história corretamente, e nem vou entrar em detalhes aqui, mas tem um ponto forte no seu exemplo totalmente equivocado e que demonstra apenas um sentimento anti americano.

Enquanto Betty Mahamoud estava em um país que despreza totalmente o direito da mulher, que se ela procurasse se separar de seu marido seria apedrejada e perderia na hora o direito a sua filha, pois lá a lei é totalmente machista, Bruna estava nos EUA. Não sei de onde você imaginou que ela seria tratada como "cucaracha"

Bruna não quis esperar, não quis fazer a coisa certa, agiu como uma criança mimada e pois apenas os SEUS desejos em consideração. Se ela fosse a corte americana e dissesse justamente isso, que Davis não trabalhava, obteria o dicórcio e a custódia do garoto com facilidade. Tudo certinho e acordado, bastava pedir direito de viagem.

Um filho é de 2 pais, não de um. Um não pode fugir pelo mundo sem o consentimento do outro, isso é fato, isso é lei. Não importa se Bruna trabalhava demais ou não se sentia amada, ela errou, errou feio, e prejudicou todo mundo.

Também é uma mentira enorme e descabida que David não tentou vero garoto antes de 2008, mas nem vou mais explicar porque cansei.

Só espero que as pessoas parem de achar que é um problema político, é um problema sim, porque o país participa de uma convenção que foi feita inclusive para PROTEGER as crianças brasileiras que possam passar pelo mesmo problema.

Aline Carneiro disse...

Engraçado como aparecem pesoas que só estão dispostas a ver a coisa do ponto de vista "totalmente legal" e esquecem o bem estar da criança. Minha cara, um pai que pede 150 mil para facilitar o divórcio não me parece estar interessado no bem estar do próprio filho, mas em amor em dólar.
Capricho de um pai é querer tomar a criança depois que ela estabeleceu laços afetivos, uma criança que em momento algum teve A SUA VONTADE respeitada.
Não tenho sentimento nenhum anti-americano, só acho que um pai que verdadeiramente ama seu filho leva em consideração o melhor para ele. Com certeza essa saída traumática não é o mehor para a criança, mas não vou discutir com alguém que não teve força para rebater todos os outros fatos, como por exemplo o de David Goldman estar "amorosamente" pleiteando a tutela da herança da criança.
Você prefere no entanto ofender a memória de uma mãe que sabia o que estava passando do lado do sujeito e que não está aqui para se defender. E pelo visto, esqueceu como acabaram os últimos casos qe envolviam estrangeiros julgados em solo americano.
Vou encerar com uma frase que define bem o que é o direito americano, que não foi dita por mim, mas pelo David E. Kelley, autor de diversas séries americanas sobre advogados e ele mesmo advogado: "Somos americanos. Não processamos para fazer justiça, processamos para fazer dinheiro".

ESPAÇO EMPREGOS disse...

Aline,

Foi muito bom ler seu comentário, pensava que estava sozinha, nos meus pensamentos.
Apesar de não conhecer a história da herança, achei muito estranho ele pedir 150 mil para tirar o nome dos sogros do processo, isso é prova que David é mau carater.
Acho também que ninguém que viva feliz, faz o que Bruna fez, ela certamente tem seus motivos, para agir desta forma, não me pareceu uma menina mimada, mas uma mulher revoltada, é certo que ela errou, mas todos nós já erramos alguma vez na vida, e nenhum de nós estavamos na pele dela, para saber o que se passava. Esse David me passa a impressão de interesseiro, certamente daqui alguns anos, posso estar enganada, mas só poderei saber isso daqui alguns anos.
Mari

Laura Graziela Gomes disse...

Alyne parabéns! Perfeita sua análise e você deve postar isso em outros blogs porque a opinião pública brasileira está muito mal informada sobre todo o processo.
O mais vergonhoso de tudo isso é que a atitude de Bruna não deveria estar mais em julgamento, até porque ela não pode mais se defender. De qualquer modo, ao se divorciar de David legalmente, ainda em vida, tendo pago o tal acordo, ela obteve também legalmente a guarda do filho, logo sua legitimidade não poderia ser posta novamente em questão neste momento. Isso só vem provar o poder de manipulação da midia americana e a fragilidade de nossas instituições.
E, Vanessa, desculpe-me não sei de onde vc fala, mas o problema é político sim, e muito grave porque abre precedentes horrorosos, especialmente pela forma arbitrária como foi solucionado, às custas de um acordo comercial.
A Convenção de Haia é um fato, sem dúvida, mas o Estatuto da Criança e do Adolescente também é. Entre uma coisa e outra, os direitos da infância foram ampliados, especialmente no que diz respeito ao direito delas serem ouvidas por peritos e especialistas sobre fatos e situações que podem mudar drasticamente o curso de suas vidas, como é o caso.
Em resumo é tudo muito lamentável: vivemos em um país onde crianças ricas podem ser trocadas, movidas por pressões externas por acordos comerciais, enquanto crianças pobres podem ser massacradas, criminalizadas ou então transformadas em vodus humanos!

Alyne Dagger disse...

Ah sim, vou voltar a responder à Vanessa. Concordo que um filho é "de dois pais, não de um"; os dois têm obrigação com sustento e a educação da criança, e David, enquanto Bruna viveu nos Estados Unidos, simpklesmente não cumpriiu essas obrigações. Está no processo de divórcio, e não foi contestado, que ele não tinha ocupação regular e que enquanto a criança passava o dia num day-care ele ficava parado ao lado do barco, "esperando turistas". Sua atividade rendia cerca de "600 dólares por mês". Só as despesas com o day-care eram mais da metade desses 600 dólares.
Ora... nem o sujeito se defende da própria vagabundagem. Consta ainda no processo que Bruna chegou a falar com David em separação e ele foi bem claro em dizer que não sairia "de mãos vazias" do divórcio.
E voltando à história de Betty Mahamoud, Vanessa, VOCÊ que está valorando um país em detrimento de outro. Fato que no Irã os direitos das mulheres não são respeitados, porém, a América da qual Bruna fugiu é a América de George W. Bush, a América paranóica onde presos foram torturados e humilhados na prisão de Guantánamo - depois de serem presos sem direito julgamento e levados de seu país de origem por mera SUSPEITA de serem terroristas.
O que mais me enoja é ver David dizer que isso será bom para o país. Ora, antes dessa história toda, David seria chamado em seu póprio país de "looser" ou "lixo branco" - white trash, expressão americana que designa brancos que não gostam de trabalhar, sem conotação necessariamente racista, pois é usada por brancos como negros. Na boca de um sujeit como esse, que provavelmente ignora que há menos de 40 anos no sul do seu país Negros eram pendurados em árvores para pagar por crimes cometidos por brancos, que há menos de dez anos o país dele usou uma justificativa estapafúrdia pára invadir - e dizimar muitos civis no processo- o Iraque, que há menos de 5 anos passou a vergonha de admitir que não havia motivo legal para manter uma prisão para estrangeiros em Guantánamo. Onde um jornlista do New York times foi desmascarado forjando notícias e que há menos de dez anos chocou o mundo por, apesar de se auto-declarar a maior democracia do mundo, ungir presidente um cowboy eleito de forma para lá de duvidosa. Ora, na boa; que envergadura moral tem esse sujeito para valorar o que é direito no Brasil?
David foi - e continua sendo - mau pai, pois disse que "com o tempo permitirá visitas". Que tempo? O tempo para ele tentar comprar o filho com passeios a Disney e exposição na mídia americana? O tempio delr calcular o preço dessas visitas? Ele insinua que foi vítima de vingança da família, mas está se vingando no filho - Sean disse à avó que ligaria assim que pudesse e desde que chegou nos EUA não ligou - o que significa que o pai o proíbe de ter contato com a família que o criou e o ama, coisa que nunca aconteceu do outro lado - David recusou duas vezes passagens paa ver o Brasil visitar o filho em ato jamais explicado.
Toda essa história insinua uma sabedoria de Salomão às avessas. No famoso relato bíblico, duas mães chegam diante do rei com uma criança viva e uma morta, e ambas dizem que a criança viva é a sua. Salomão mandou partir ao meio o bebê restante e enquanto uma mãe se deu por satisfeita, a outra disse que preferia que a outra mãe ficasse com a criança viva. Salomão, sábio, deu a criança a essa mãe que provou que queria realmente o bem dela. A nossa justiça, ao contrário, entregou o menino a quem não se importa com o seu bem estar e muito menos com sua própria felicidade.

Pati disse...

Uau, eu não sabia dos podres deste processo, mas confesso que não estou surpresa. David nunca me passou algo real e lembro bem que comentei com minha mãe exatamente esta parabola de Salomão e as duas mães...

Algo que me deixou com raiva absoluta foi a mídia daqui descer a lenha na mídia brasileira, dizendo que a saída do menino do Brasil foi "traumatizante", pela dezenas de reporteres e fotógrafos... quando aqui eles mostram a cara do menino em tudo que é canal, sem borrão em cima e canal de tv ainda resolve fazer um "especial" na viagem do menino? Tenho dó!! Double standards, anyone?

E digo mais, não tem nada de errado em ser anti-americano... afinal, todas as pessoas de bom senso o são. Haha. :-)